quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Guerra contra a Terra

Vandana Shiva é uma activista Indiana que criou a associação Navdania, para a partilha e defesa das sementes e saberes tradicionais, valorização dos agricultores, da sua autonomia e independência alimentar, em harmonia com a natureza e a diversidade biológica.
Em tempos de crise económica talvez seja importante reler o que ela tem para nos dizer:

"Não existe guerra apenas no Iraque ou no Afeganistão. A maior guerra de todas é levada a cabo contra o planeta. Esta guerra tem as suas raízes numa economia que não consegue pôr limites à exploração dos recursos, à concentração da riqueza e à avareza.

As maiores corporações e os países mais poderosos tentam colocar tudo à venda, controlando os recursos do planeta e transformando-o num supermercado. Querem vender a água, os genes, os conhecimentos adquirido ao longo de séculos.

As intermináveis guerras no Iraque, Afeganistão e outras que surgirão, não se tratam apenas de guerras por petróleo. À medida que as suas causas se desvendam veremos que se tratarão também de guerras por comida, genes e biodiversidade.

A mentalidade de guerra subjacente à agricultura militar-industrial é evidente nos nomes dos herbicidas da Monsanto: Machete, Round-up,  Lasso. A sustentabilidade é baseada na paz com a Terra.

A luta contra a terra começa na mente. Os pensamentos violentos engendram acções violentas, complexos violentos engendram ferramentas violentas. Os complexos industriais que começaram a fabricar gases tóxicos para matar pessoas nas guerras, fabricam agora agro-químicos para a agricultura. Isto demonstra bem os métodos em que se baseia a agricultura e a produção moderna de alimentos.

Os pesticidas falharam no controlo das pragas. A engenharia genética devia ser uma alternativa aos químicos tóxicos, em vez disso aumentou o uso de herbicidas e pesticidas.

Esses produtos têm um preço que está a levar os agricultores a um endividamento crescente e a muitos suicídios. Na Índia, acredita-se que se terão suicidado 200 000 agricultores desde 1997.

Fazer a paz com a Terra é um imperativo ético e ecológico e, agora, um imperativo para a sobrevivência da nossa espécie.

A violência para com o solo, a água, a biodiversidade, a atmosfera e os agricultores causa um conflito incapaz de alimentar as pessoas. Mil milhões passam fome, dois mil milhões sofrem de problemas relacionados com má nutrição: obesidade, diabetes, hipertensão e cancros.
Há três níveis de violência no desenvolvimento não sustentável:

1º A violência contra a terra, visível na crise ambiental.

2º A violência contras as pessoas, visível na pobreza, fragilidade e deslocamento de milhões de pessoas.

3ºA violência da guerra, que recai em comunidades e países à mercê do apetite voraz de outras potências pelos seus recursos.

Quando todos os aspectos da vida são comercializados, a vida torna-se mais cara e as pessoas mais pobres, mesmo quando conseguem ganhar algum dinheiro por dia. Por outro lado, as pessoas podem ser ricas sem dinheiro, se tiverem acesso à terra, a solos férteis, a rios límpidos, se as suas culturas transmitirem conhecimentos para o fabrico de habitação e roupa, de receitas deliciosas, se houver coesão social, solidariedade e espírito comunitário.

Considerar os mercados e o dinheiro como a principal riqueza humana, basear todas as relações económicas e princípios sociais nesses princípios, considerar apenas que o bem estar se adquire com dinheiro, tem destruído a vida e sustentabilidade da terra e da sociedade.

Quanto mais ricos ficamos, mais pobres nos tornamos ecológica e culturalmente. O crescimento de riqueza, medido em dinheiro, está a conduzir a um crescimento da pobreza material, cultural, ecológica e espiritual.

A verdadeira moeda é a própria vida, esta perspectiva levanta questões:
Como é que nos vemos neste mundo?
Para que servem os Humanos?

Somos apenas máquinas de fazer dinheiro e consumir recursos avidamente?
Ou temos uma finalidade mais elevada?

A “Democracia da Terra” permite-nos imaginar democracias baseadas nos valores intrínsecos de todas as espécies, pessoas e culturas, numa justa partilha e decisão justa do uso dos recursos vitais do planeta.

A Democracia da Terra protege os processos ecológicos, mantém a vida e os direitos humanos fundamentais que incluem o direito à água, comida, saúde, educação, trabalho sustento.

Temos que optar: obedecer às leis do mercado e à avareza das corporações, ou às leis de Gaia para manter os ecossistemas da Terra e a diversidade dos seres que neles habitam?
As necessidades humanas de água e alimentação só podem ser satisfeitas se a capacidade da natureza para as fornecer for protegida. Solos estéreis e rios mortos não dão comida nem água.
Defender os direitos da Mãe Terra é, por conseguinte, a luta mais importante para os direitos humanos e a justiça social. É o mais vasto movimento de paz do nosso tempo".
O texto integral está em aqui

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